Foi de propósito ou sem querer?

Uma reflexão sobre algo que é fundamental: o propósito. Uma palavra que virou moda, mas que nem todos compreendem a profundidade do termo.

Márcio Merçoni

Márcio Merçoni

Quando éramos crianças e fazíamos algo errado, caímos sempre no julgamento sobre ter feito de propósito ou sem querer. Se esbarrávamos no lanche do coleguinha de quem a gente não gostava, ficava a pergunta no ar “foi de propósito ou sem querer?”.

Com o passar do tempo e com nosso crescimento e amadurecimento, ficou cada vez mais nítido aquilo que foi feito de propósito e aquilo que foi sem querer. Mas a predominância se dá ao que fazemos deliberadamente, pois em nossa maturidade, temos a liberdade de escolher fazer (ou deixar de fazer).

Porém, ainda que façamos as coisas de forma deliberada e que tenhamos a plena noção de quem é a responsabilidade sobre as minhas escolhas pessoais e profissionais (evitando cada vez mais o “sem querer”), esquecemos de algo que é fundamental: fazer COM propósito, ao invés de fazer DE propósito.

Essa diferença pode não parecer muito óbvio, por isso quero ressaltar que quando faço algo DE propósito, a impressão é de que eu faço algo para que eu resolva algo que está diante de mim ou num futuro próximo.

Quando eu faço algo COM propósito, significa que em TUDO o que eu faço, eu carrego propósitos e valores comigo. Não importa o que eu faça, tudo precisa estar de acordo com o meu propósito pessoal e profissional que estabeleci.

E parece que essa palavra virou moda. Em um evento recente, a palavra que mais ouvi era “propósito”, “propósito na empresa”, “propósito nas pessoas”, nos romances, etc. Estava em tudo. Porém, eu tinha a nítida impressão de que as pessoas não sabiam o que isso significava. Parece que elas não compreendiam a profundidade do termo.

Por isso, quero passar essa ideia para você.

Porque estamos falando tanto de propósito???

Estamos passando por uma mudança de era. Estamos saindo de uma era digital, onde entramos em um padrão de vida dominado pela tecnologia, e entrando em outra era, em que a tecnologia já faz parte comum de nossas vidas. Estamos numa era em que as pessoas podem chegar aos 65 anos dedicados à profissão, dado que a expectativa de vida só aumenta. 65 anos de hardwork.

Isso significa que é quase impossível passarmos tanto tempo de nossas vidas, nos dedicando somente para uma única carreira e profissão. É quase impossível pensar que eu ainda tenho mais 50 anos de vida produtiva, e que estarei fazendo a mesma coisa, do mesmo jeito do que eu faço agora.

E é por isso que muitos buscam mais que um trabalho. As pessoas querem propósitos. Elas querem encontrar algo, um trabalho ou uma empresa em que elas acreditam. Algo que as faça perceber que não basta receber o contracheque no fim do mês ou ganhar bonificação no fim do ano.

Antigamente, na época dos meus pais, era isso que buscavam. Trabalhar, ascender profissionalmente, e curtir a aposentadoria. Hoje ele ainda quer continuar trabalhando, mas já dedica metade do seu tempo para andar na sua Harley Davidson.

A minha geração e a sua (os chamados Y e Z), no entanto, busca algo que o Simon Sinek (grande especialista em gestão e liderança) alertou: “Tudo começa com um porquê?”.

Afinal, de que adianta levantar todos os dias para trabalhar em algo, se eu não tenho um “porquê” que seja mais relevante do que, simplesmente, gastar meu dia e esperar o fim de semana chegar. É necessário mais do que isso. É necessário encontrar uma causa, uma justificativa, mas principalmente, é necessário uma finalidade.

Queremos ter uma finalidade relevante em cada coisa que fazemos. Não é só fazer por fazer e atender às demandas do meu chefe. É, por sua vez, me aliar ao meu chefe ou líder em algo que acreditamos em conjunto.

Esse choque diferencial, entre buscar algo COM propósito, provocou uma grande corrida e luta por transformar as relações de trabalho. Mas não é tão simples assim. Descobrir seus propósitos e os propósitos das coisas exige um esforço diferenciado. Exige autoconhecimento e espírito de aventura.

Por isso, quando você se perceber esmorecido, sem perspectiva, pergunta a si mesmo se isso é “de propósito ou sem querer?”.

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